Trabalhadores palestinos têm uma longa história de resistência
A greve geral palestina de 18 de maio se encaixa em uma história muito mais longa de mobilização dos trabalhadores palestinos. Dos anos coloniais britânicos ao presente, essas lutas encararam repressão severa, mas mantiveram um espírito de resistência vivo. Em 18 de maio, todos os setores do povo palestino se uniram em uma greve geral: residentes da Cisjordânia ocupada por Israel, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza, e cidadãos árabes palestinos de Israel e seus compatriotas na diáspora. A “greve da dignidade” amplamente observada lembrou duas anteriores greves gerais palestinas para avançar em demandas nacionais, em 1936 e 1976.
Por Joel Beinin (Jacobin) | Tradução de Luciana Cristina Ruy
A greve desafiou as táticas de dividir para governar que Israel implantou para dispersar e dominar os palestinos, desde seu estabelecimento em 1948. Igualmente importante, ela destacou a importância dos cidadãos palestinos de Israel, não apenas como uma força na política israelense, mas como um componente de todo o povo palestino.
O Alto Comitê de Acompanhamento para Cidadãos Árabes de Israel, o corpo dirigente não oficial dos palestinos israelenses, que compreende cerca de 20% dos cidadãos de Israel, iniciou a chamada de greve. Subsequentemente, ambos Fatah e Hamas – os partidos dominantes na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, respectivamente – assim como a Autoridade Palestina, a endossaram. Federações sindicais palestinas na Cisjordânia também aprovaram a greve.
“O ataque aos palestinos em Jerusalém, em Sheikh Jarrah e na mesquita de al-Aqsa” e “o ataque ao público em geral e em cidades mistas em particular” provocaram a greve de 18 de maio, afirmou um porta-voz para o Alto Comitê de Acompanhamento. Ayman Odeh, chefe da Lista Conjunta dos três principais partidos árabes no Parlamento de Israel, o Knesset, adicionou:
A provocativa e violenta política de repressão do governo Netanyahu falhou e não terá sucesso em repreender a nossa luta ou nos desviar de nosso caminho – uma luta civil organizada e justa contra a ocupação, o bloqueio , os ataques em Gaza e por paz e igualdade.
A expressão mais visível da greve de 18 de maio foram os negócios árabes fechados no Leste de Jerusalém e na Cisjordânia, assim como em cidades israelenses com grandes populações palestinas, tais como Haifa, Jaffa, Lydda e Acre. Foi amplamente observado pela classe trabalhadora palestina israelense e de Jerusalém Oriental, que são desproporcionalmente representados na construção, saneamento, setores de hotéis e restaurantes, assim como nas fileiras de motoristas de táxi e de ônibus. Várias centenas de trabalhadores foram demitidos por fazer greve.
De acordo com a Associação de Construtores de Israel, apenas 150 trabalhadores da construção palestinos da Cisjordânia apareceram para trabalhar, resultando em perdas estimadas de perto de $40 milhões. “Se todos nós lutássemos dessa forma pelos direitos dos trabalhadores, talvez nós conseguíssemos alguma coisa,” comentou um operador de guindaste grevista. Contudo, a maioria dos palestinos israelenses no setor de saúde, onde eles são particularmente proeminentes – compreendendo 17% dos médicos, 24% dos enfermeiros e 47% dos farmacêuticos – não observaram a greve.
Muitos palestinos, como Mudar Younes, chefe da União Nacional de Municípios Árabes, não conseguiam lembrar uma ocasião anterior quando os palestinos israelenses iniciaram uma greve que se espalhou para a Cisjordânia e a Faixa de Gaza. A última vez que isso aconteceu foi quarenta e cinco anos atrás.